Halloween Ends: encerramento decepcionante para a trilogia de David Gordon Green


Halloween Ends (2022) tinha potencial. Apresenta um personagem interessante, Corey Cunningham (Rohan Campbell), traz uma bela fotografia, é embalado por uma ótima trilha sonora e tem alguns momentos intensos em sua narrativa. O filme, porém, é confuso tanto em seu desenvolvimento, quando considerado isoladamente, quanto como sequência de Halloween (2018) e Halloween Kills (2021).

O roteiro aqui investe pesado em um novo protagonista/antagonista, algo que poderia funcionar se Corey (foto acima), peça central do terceiro longa na nova linha temporal da franquia, não tomasse o espaço de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) e Michael Myers (James Jude Courtney), que chegam ao encerramento de sua disputa de forma deslocada, mal amarrada e insatisfatória, em um terceiro ato estranho, que não bate com a continuidade dos filmes anteriores, nem conclui com graça as intenções do próprio filme. 

Apostar em Michael Myers com mais tempo de tela não seria exatamente a solução, pois a ideia do personagem ser perigoso simplesmente por existir, perigoso mesmo afastado do resto da cidade, é boa, só que muito mal utilizada. No original, de 1978, não se explica qual é a causa da vilania, da violência do personagem, se apresenta algo propositalmente ambíguo. Já a tal sequência direta, de 2018, o trata como um ser humano normal, ainda que perigoso. O filme seguinte, Halloween Kills, chuta o balde, em nome de toda sanguinolência possível -o mascarado é capaz de matar quase que uma cidade inteira no braço- e trata o personagem como uma máquina de matar, sobrenatural e insana. Tudo isso, para chegar no terceiro filme (quarto, contando o original) com um Michael Myers debilitado, que finalmente sente os sinais de seus sessenta e todos anos, mas apenas porque convém ao mal fadado roteiro.  

Ainda assim, o filme vai bem em seu começo, talvez até a sua metade, quando se percebe que a ameaça de Michael Myers foi escanteada em nome de ideias que não caem bem no encerramento da estória, que quase sem clímax, tem pouco desenvolvimento e tropeça feio logo em seu final.

Considerando os três filmes lançados sob a tutela da Blumhouse: Halloween (2018) é um filme regular, morno, que se ancora demais em personagens que estão alí apenas para entrar nas estatísticas e em referenciar o original, de forma cansativa, mas que funciona pela na atuação de Jamie Lee Curtis e na figura de Michael Myers, enquanto Halloween Kills embarca no exagero e se sai melhor, fechando até pontas soltas do filme anterior e entregando uma boa escalada para o que seria o encerramento da trilogia. Infelizmente, acontece de forma atrapalhada em Halloween Ends. O longa fica devendo em sua premissa que, em partes,  tenta ser um filme mais criativo do que a média dos slashers, quanto como o terceiro capítulo de uma trilogia que se vendia como das melhores possíveis para o sensacional filme de 1978.

Halloween é uma franquia de sequencias irregulares, algumas, bem poucas, muito boas, e outras simplesmente dispensáveis. Quando não se afogam na armadilha do 'fan service',  nem se contentam repetir o filme original, do mestre John Carpenter, as exceções acontecem. Halloween Ends, infelizmente, não se encaixa entre as que acertam.



Zeone Martins 


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